Um coração envelhece.
Frágil, bate no peito com vagar. Tem mais escuta do que voz.
Espaços de silêncio prolongados, menos pressa, mais sereno.
Um coração que envelhece, faz despejos, limpa seus próprios dejetos, consciente de que não deve sujar o espaço comum com amarguras, ódios ou coisas assim.
Amacia o colo para suas lembranças e abre a janela para receber a brisa do seu tempo e arejar sentimentos.
Um coração que envelhece, tem espaço para o novo, o limpo, o feliz.
Sente urgências, mas não descompassa. Reconhece o lar de seus segredos, onde plantou boas sementes e cultivou com lealdade.
Olha suas feridas e lambe-as para fazer sua própria cura.
Um coração que envelhece, é mais doce, enternece. Sabe de suas vontades e de seus limites.
Continua gostando muito de vestir um par de asas. Mas com mais cuidado para não danificá-lo, porque conhece o raro presente do universo contido neste abraço de voo.
Um coração nasceu assim, mas envelheceu e sobreviveu.
É uma pena que existam aqueles que nunca tenham conhecido um coração que amadurece.
por MARIA LUIZA KUHN