Qual personagem levamos para passear? ou
Você precisa de um guru?
Cada um escolhe um de seus personagens para passear. Para mostrar ao mundo. Seria aquele vestido de puro ego, superego, alter-ego-seu avatar?
Difícil definir. Quando uma pessoa define seu universo e se molda para persuadir, estará vestindo uma máscara que costuma aderir à pele.
Lendo o livro, que virou série, Conto de Aia, (Margaret Atwood), um texto altamente distópico, mas que nos põe em alerta para um projeto de poder chamado teocrático, onde se sequestra a fé, a liberdade e principalmente se coloca qualquer sociedade em estado perceptível de caos, me intimido.
Desconfio quando percebo algumas propostas dos chamados gurus, coach, palestrantes, ou seja, lá como se denominam, usando chavões de “pintei meu cabelo” “mudei a paleta das minhas roupas” porque assim os profissionais de style sugeriram e realmente tudo mudou no “personagem que levo para passear”, especialmente para vender o “seu peixe”.
Sinto-me enganada quando assisto falas (leia-se palestras) ao final de conteúdo completamente vazio, de frases feitas e alto desempenho de palco. Estarrecida, outro sentimento se apossa quando percebo que existe uma plateia em estado de hipnose cognitiva, aplaudindo e comprando esses “produtos”. Afirmações do tipo “se eu consegui, você também consegue’ Especialmente afirmando sobre alto faturamento, e fazendo a plateia repetir isso em voz alta. Pergunto-me, como conhecedora do mundo financeiro: Onde está girando este dinheiro? Esta moeda corrente, a que são incitados a buscar pelas palavras dos “palestrantes”, os seus seguidores?
Isto chama-se engodo.
Algo que me incomoda muito. Perguntei-me se isto podia significar uma pontinha de inveja de quem chegou neste patamar de palestras e faturamento, aliás somos também parte deste capitalismo, ou estaria eu incomodada pela percepção do uso do nome de Deus incessantemente nestas falas. Tipo “eu negocio com Deus”.
A frase mais bizarra que ouvi recentemente foi: “devemos nos maquiar (mulheres) sempre, pois vendemos nossa imagem permanentemente. Até quando saio para orar, faço isso, pois Deus merece me ver mais bonita”. Socorro, ser humano, você acha sinceramente que a força suprema do universo, a quem chamamos de Deus ou, para alguns, outras denominações, vai olhar para você maquiada e então a colocar noutro patamar?
Sinto, igualmente, um incômodo muito grande, percebendo nisso tudo um projeto de poder às ocultas, onde nestas vendas se infiltram religiões fundamentalistas.
Felizmente, não estou sozinha nesses questionamentos, e, comentando com uma amiga, ela me consola: “Não estamos insanas. Costumamos pensar”.
Gosto de acreditar que levo o meu personagem essencial e pensante para passear enquanto ainda me construo diariamente como ser humano.
By MLK - imagem IA
Maio/2024