Obrigada meu avô.

Como gostaria de escrever no tempo presente todas as formas do verbo amar que aprendi com você.

 Como gostaria de rir de todas as tagarelices e histórias ou estórias juvenis que gostavas de contar.

 Ainda hoje queria ser aquela criança, e fazer ninho no teu colo de homem forte.

Todas as calosidades de enxada e roça, ah! Queria-as nas minhas mãos como texturas herdadas, bem apertadas nas minhas que pequenas eram, e hoje carregadas de caminhos que trilhei com muito do teu DNA.

Queria resgatar todas as tuas gargalhadas, falas atrapalhadas na mistura do teu primeiro idioma com o português deste país que te acolheu e onde você plantou tua família de cinco mulheres, eu como sendo a quinta, e cultivou no serviço braçal o alimento de cada dia.

Você nem faz ideia de como gostaria de ouvir tuas raras broncas quando eu perturbava teus conceitos e extrapolava os teus infinitos limites de paciência.

Hoje, me sinto limitada em conjugar o verbo amar, nem tampouco consigo sorrir.

Quando forte me vem tua ausência física, e a saudade vaza em lágrimas, restam boas lembranças. Aliás, isto também aprendi com você. Chorar de emoção, de saudade, de fúria para engolir algum desespero, quando impossível ou inútil minha interferência.

Necessário sobretudo lembrar que você me ensinou a ter serenidade para aceitar a vida e vagarosa, mas firmemente protagonizar minha jornada. Hoje entendo muitas das missões que Universo reservou para mim. Nem sempre as entendi. Mas reconheço que do jeito que me foi possível, as tenho cumprido.

Você me ensinou o valor do trabalho, sem esquecer de sonhar. Você me ensinou a valorizar as pessoas, através do olhar da caridade, e, nem sei se esta palavra estava no teu vocabulário, mas nas tuas atitudes com certeza se fazia presente cotidianamente.

 Hoje chego, na idade em que você esteve tão presente na minha vida, e nesta maturidade, por vezes um tanto cansada, reflito e agradeço.

Ainda posso te agradecer?

Obrigada por tanto meu avô Nicolau.

No canal da prece, dada esta permissão, receba todo o amor que você plantou no meu SER.

Maria Luiza/1995/2023