ESCREVI ESTE POEMA QUANDO ESTÁVAMOS NO AUGE DA PANDEMIA.

HOJE, VOLTO A SENTIR A MESMA IMPOTÊNCIA E INDIGNAÇÃO DIANTE DAS TRAGÉDIAS DE INCÊNDIOS NO PAÍS.

Ludibriar

O cataclisma se anuncia

Destituído de pudor, disfarce ou carência

Semeando com destino definido

Sem nenhum critério, desde que humanoide seja

Inspira ser, respira

Espirra ser, espirra

A terra pede arrego, sossego

agora chora, implora, ajoelha

pela árvore que derrubou, pela flor que esmagou

pelos motores exagerados e seu ronco desmedido

na corrida desenfreada pelo lucro

pelos mares intoxicados

pela ambição desmesurada

chora, ajoelha junto à terra

humanoide embolado no cataclisma

impotente, perdido no caos

escurecido em dias de luz

cataclisma de tumultos seculares em brancos corredores

onde se acumulam corpos humanoides adoecidos, amortecidos

abre valas comuns e feridas profundas nos corações

morbidamente se instala por desprazer

continuamente a sangrar a fome de muitos

o ódio de tantos, o desamor e o egoísmo

cutuca de longe e vai chegando perto

ferindo a negação, confirmando a aceitação

até que enfim esmaga com dentes de dor

humilha a prepotência e

morde, morde, morde

até triturar os ossos podres

de quem ainda se acha inatingível

intangível, super humanoide

apesar de humanoide!

 

por Maria Luiza Kuhn - 2020/2024