GRITO ou machismo nefasto

 

Grito ou Machismo nefasto

 

O que me importa se posso escolher o vinho para acompanhar meu jantar. O espumante que eu pago. A mulher que posso comer, com exclusividade.

O que me importa se existem as invisíveis. Trecheiras? Nem sei que termo é esse? Você diz ser preciso nominar para ouvir a voz dos calados? Que bobagem é essa? Isso só pode ser opinião exclusiva das neofeministas.

Mulheres que se prostituem no asfalto? Trocam boquetes por alguns parcos trocados com motoristas de caminhão cansados de estradas e caminhos? Tomam cerveja barata ou cheiram quando o "cliente” pede? No fundo, devem gostar desta vida “fácil”. Fumam maconha para rir um pouco da desgraça que lhes assola? Maconha é bom mesmo. “Deixa quieto”.

Sou desses homens que fazem parte da “meritocracia”. Claro, sou branco e macho. Estudei. Fui o primeiro da família a concluir curso superior. Entrei como trainee numa grande empresa. Me esforcei para caramba. Trabalhei até altas horas. Estudei inglês por conta e risco. Nas primeiras férias comprei passagens em promoção e conheci culturas diferentes. Sento-me à mesa de negociação de qualquer reunião e sei até citar alguns museus que visitei. Atualmente sou diretor. Por meritocracia viu? Hoje compro passagem na classe executiva.

Nunca frequentei Bordel porque tenho nojo, tudo me parece sempre meio sujo, por isso não quero saber se existem histórias de prostituição que sejam tristes ou advindas de estupros de tios, pais ou abandonos de mãe. Confesso que já paguei garotas de programa, mas agora não mais. Hoje tenho a “minha” mulher. Tudo bem que ela é um pouco mais jovem que eu. Gosta de procedimentos estéticos e de presentes caros. Mas é minha.

Escolho o meu vinho e meu espumante. Posso pedir o prato mais exótico, desde que me agrade, no restaurante do bairro chique, mesmo que tudo vire bosta. O que importa?

Trecheiras, trans que sofrem violência, prostitutas que envelhecem encharcadas de crack? Isso deve ser literatura ficcional pura.

O que me importa?

Por Maria Luiza Kuhn 2022

O texto do livro é visceral. Doloroso. Profundo. Fundamental, apesar de.

Parabéns autora!