DE QUE MATÉRIA SÃO FEITOS OS POEMAS?
Eduardo Galeno é precioso: “Os cientistas dizem que somos feitos de átomos. Um passarinho me contou que somos feitos de histórias.”
A frase me inspira a fazer a pergunta do título.
Edgar Morin, sociólogo contemporâneo, afirma que a questão da felicidade está na poesia da vida. “Vida, a meu ver, é polarizada entre a prosa — ou seja, as coisas que fazemos por obrigação, que não nos interessam, para apenas sobreviver, e a poesia, o que nos faz florescer, o que nos faz amar comunicar. E isso é o importante.”
O poeta Charles Bukowski lembra que poesias “são dardos em forma de palavras que vão direto para a parte emocional do nosso cérebro”. E, ainda, “que um bom poema pode fazer uma alma despedaçada voar.”
Outro poeta, a quem devoto meu carinho e admiração, é Mário Quintana, gaúcho como eu. ” Se eu fosse um padre, eu citaria os poetas. Rezaria seus versos, os mais belos, desses que desde a infância me embalaram e, quem me dera, alguns fossem meus. Porque a poesia purifica a alma e um belo poema, ainda que de DEUS se aparte, um belo poema, sempre leva a DEUS.”
Já Manoel de Barros brinca com passarinhos, lagartixas, borboletas e disso faz sua poesia encantada. Com tanta singeleza e profundidade, diz num verso: “Para enxergar as coisas sem feitio, é preciso não saber de nada. É preciso entrar em estado de árvore. É preciso entrar em estado de palavra.”
Mia Couto canta em versos que uma moça se confessa ao padre dizendo ter engravidado do rio e este lhe faz rezar penitências até o dia em que ele descobre a magia daquele rio e passa a se banhar em suas águas todas as noites. Dispensa então a penitência?
O que é isso senão encantamento?
A imaginação tudo pode, inclusive criar mundos, porque sobreviver apenas não basta.
Salto dos poetas para uma leitura pragmática que me traz Eduardo Moreira, discorrendo sobre a economia da necessidade x economia do desejo. Filosofando, reflete que, uma vez o homem ter cercado um pedaço de chão e afirmado que era “SEU”, o mundo nunca mais foi o mesmo. Aí chegamos à economia do desejo, aquela que sempre quer mais, mais e mais. . Segundo Moreira, e por constatar em números e estatísticas a nefasta prática de concentração de riquezas em minorias absolutas, distancia enormemente ricos, pobres e miseráveis.
Qual a relação entre o pragmatismo e a poesia?
As necessidades básicas supridas poderiam ser a prosa da qual fala Morin?
A poesia da vida seria o suficiente para o bem-estar?
Paradoxal ou não, convido-os a refletir.
Quisera, ainda, citar muitos outros poetas que amo, que me embalam no mundo mágico da poesia. Hoje, entretanto, a reflexão fica por conta dos citados, visitantes nesta tarde de primavera, e que sem pudor espiam meu tempo e minhas letras, desde as janelas da alma.
MLK/ primavera de 2021
imagem: Arquivo pessoal