Conversas de ar e chão!
Minha história deu-se no ar. Na dança dos ventos. Nos voos de andorinhas.
Nasci timidamente e me tornei um frondoso pé de pitanga. Já me dei por feita com folhas pequeninas. Em galhos descalços de pudores, sempre deixando à mostra um pouco de seiva.
Mesmo nas tempestades, me sentia com fortes asas. Nas gélidas noites do sul, me recolhia em respeitoso silêncio, porque sabia que chegariam outros tempos.
E quando fecundada, vertia flores. Profusão de flores. Brancas e delicadas.
Destilava no ar da história um doce perfume de muito querer.
Mas a festa dos meus sentidos acontecia no rubor das frutas. Carnosos sabores entre cítricos e doces. Pitangas.
Meu deleite era dar morada aos pequenos, que dos galhos faziam seus efêmeros lares de felicidade. Lambuzados de cores e felicidade, se faziam proprietários deste minifúndio, colorindo a boca entre risos e paixões de paladar, no mais puro sentimento de prazer.
Minha história deu-se no ar, porque minhas raízes… Ah, minhas raízes!
Esplendorosas, as protegia com a aquiescência da mãe terra, guardiã dos meus segredos.
Homenagem ao Pé de Pitanga na casa do meu avô.
Por
Maria Luiza Kuhn/2024