SUPLICO POR ÁGUA.
Eu suplico por água.
Água que tudo lava: A alma. O pecado. O santo. O profano. O desespero. A sede. A fome. A injustiça. A tristeza. Água que me permite comemorar a dança da alegria, no doce dos dias.
A boa água que traz emoções e boas lembranças. Lava as mágoas de más águas.
Eu suplico água para o sertão, suas plantas, suas famílias de humanos e de animais. O equilíbrio de água mansa para a fúria das cheias.
Eu suplico pela água que mora em mim e me transborda lindamente de compaixão.
Água no chuveiro para meu banho-de-cheiro diário, despertando minha gratidão pelo dia e permitindo deitar limpa da faina. Eu e todos.
Água na cachoeira para a deusa da água doce se banhar nas madrugadas e bem dizer o dia que nasce, deitando no rio as bençãos da vida.
Água do lago límpido e profundo para lembrar a grandeza de cada vida.
Água do mar, oh, mar!, imantado de bênçãos e incansável de ondas e de vida. Suas divindades vestidas em trajes de gala fazendo festa é humanidade.
Eu quero água. Água para me banhar e me abençoar.
Água para limpar o meu dia de tantas notícias ruins. Limpar o mau cheiro da ferocidade do capital a fabricar lucros virtuais e derrubar ‚""índices‚"" financeiros denominados ‚""mão invisível do mercado‚"". Mãos que tem nomes. Nomes de cifras enormes.
Limpar o ódio cultivado nas redes mundiais de comunicação, ditas ‚""quase invisíveis‚"".
Eu quero rios transbordantes de água límpida a regar todos os povos. Ribeirinhos ou não. Regar de fartura, de pão e de amor. Águas que nos façam verdadeiramente irmãos.
Águas que ensinem cooperação e nunca competição. Generosas e igualitárias. Águas que ignorem origens, cores e raças. Pátrias, territórios e idiomas.
Águas que apenas reguem e vitalizem, por ser este o único propósito a cumprir.
Água eu te suplico: sobreviva!
O homem e seu lixo serão detidos. Você será sempre soberana, pois ao homem, posto nu de tanta água, restará redescobrir a sua verdadeira magnitude.
Maria Luiza Kuhn
fevereiro de 2021