Antes do passarinho nascer, ele recebeu três dons do seu Pai. Eram esses: voar, espalhar amor e cantar, só que o passarinho tinha medo de altura.
Um lamento profundo, não havia encanto em seu canto. Ele possuía três dons e por não conseguir perder seu medo não fazia com todo seu coração nenhum deles.
Vocês podem questionar, como um pássaro com um belo par de asas poderia ter medo de altura e voar?
Bem, não o julguem, deixa eu explicar. É que ao nascer ao invés de praticar e bater suas asas, o colocaram numa gaiola aramada, toda dourada e o ensinaram desde pássaro pequeno que ele só poderia cantar.
Jamais disseram: ei passarinho, sabe esse seu par de asas novinho, se você usar pode fugir quando a portinhola abrir e espalhar o amor como desejo do Criador.
Ele olhava da janela dourada, outros belos pássaros sob alvorada e pensava sobre a sensação que deveria ser estar no céu, rasgar o véu, romper o vento, fluir com o movimento, plainar e se libertar e ser em essência a completude de todos os desejos do Pai para ele.
Um dia a sua raça falou forte, ele pensou liberdade ou morte e afirmou que não poderia olhar para os olhos do seu Pai novamente sem que ele tivesse usado cada dom.
Até agora ele só cantou e não foi bom, ele precisava voar e espalhar amor para o seu canto vibrar sem dor.
Ele esperou o momento certo, a portinhola dourada se abriu e num movimento brusco e incerto se jogou ao desconhecido.
Começou a cair e sua vida passarinha a ruir bem diante dos seus olhos. Ele nunca tinha voado então o destino era o abismo, ele estava fadado.
Pensou que pelo menos seu pai reconheceria seu ato de bravura, isso mudou o tom da amargura e retirou o peso da decepção.
Algo aconteceu, o medo ele perdeu, confiança ganhou e finalmente seu par de asas esticou. O passarinho voou para espalhar amor de flor em flor cantando em alto e bom som o quanto o Criador era bom.
O pássaro, suas altivas asas, seu dom, seu som, seu medo e sua superação. Uma história passarinha de amor e libertação.
Fabi Freire