Ela se deu conta de que aquilo na verdade era um labirinto. 
 
Meu Deus, todo esse tempo e era um labirinto. 
 
Ela tentou ficar brava, pois achava que esse era o certo. 
 
Esse tempo todo e ninguém mandou um sinal avisando que ela estava num labirinto? 
 
 Ela não conseguiu ficar brava. De certa forma sabia que precisava daquela experiência. 
 
Que em cada passo, na busca pela saída, ela chegava mais perto dela mesma. 
 
Ela estava se conhecendo pelos diversos espelhos que encontrava pelo caminho. 
 
 Eles refletiam o amor, o egoísmo, o medo, a coragem, a virtude e o declínio dela mesma. 
 
 Espelhavam a bela e também a fera que existiam dentro dela. 
 
Ficava tudo ali exposto pelo caminho. Em cada rosto que espelhava aquilo que somente com o coração se poderia ver.
 
Depois de aceitar que precisava daquele labirinto e que se alguém tivesse a avisado previamente dos espelhos ela não iria conseguir curar a  sua própria alma, teve que aceitar que o longo caminho tinha sido necessário.
 
Depois de aceitar toda trajetória sem mudar nada, pensou: tá bom vai, mas e agora como é que sai?
 
Ela que já tinha ido em frente, já tinha andado pra trás. Já tinha ido para todos os lados e nada. Um nada, um monte de tudo, rodou foi o mundo dentro de uma prisão da sua própria percepção.
 
Bem, ao tatear as paredes, percebeu que se fosse em círculos cada vez mais para dentro do labirinto os espelhos iam ficando menores.
 
Andar para dentro comprimia os espelhos.
 
Agora ela estava andando num espiral e escutava muitas vozes no labirinto torcendo a favor e contra.
 
Mas e os espelhos? Cada vez menores. Até que... Boom! Os espelhos não existiam mais, eles tinham quebrado tamanha a pressão de se chegar ao centro.
 
E nos pequenos estilhaços só tinham sobrado um reflexo: o dela mesma. Não havia mais o que espelhar.
 
Então ela escutou um sino depois do quebrar de espelhos. As vozes que torciam a favor e contra haviam cessado e ela foi invadida pelo silêncio composto por todos os sons. Uma única luz acendeu e apontava para uma escada. A saída era para o centro.
 
Ela começou a subir. Ela que tinha conseguido uma chave dentro de si. Ela abriu e sorriu, estava feito. E a porta do paraíso nunca mais seria fechada. Fabi Freire