purpura

Ela se vestiu de purpura,

Perfumou-se de rosas.

Deixou uma mensagem pura,

Como se fosse buscar a cura.

Ao final de seu batom cintilante,

Levou-o a boca toda vibrante.

Pintou os olhos por entre as letras no espelho,

Pinçou um broche em forma de escaravelho.

Na alça do vestido um brilhante raro,

Realçando a luz num purpura mais claro.

Desceu a escadaria como de um palácio,

Flutuou em salto alto em suposto fácil.

Entrou no mesmo carro que a presidência,

Outra vez no espelho para checar decência.

Bateu é porta como se já estivesse morta,

Lembrou dos dias de uma vida torta.

Rasgou-se naquela noite de lua cheia,

Pensou momentos ser uma sereia.

Virou por terra seu mundo,

Embriagou-se como vagabundo.

Perdeu em momentos sua classe,

Agiu como se nada importasse.

Viu o girar das luzes em tormenta,

Ardeu-te os lábios como uma pimenta.

Amou teu sexo como se a primeira,

Aniquilou as cinzas numa vã fogueira.

Caiu por chão no restiu de seu deleite,

Amargou a saliva em seu próprio azeite.

Novamente vestiu-se em púrpura,

Já no perfume um cálido hormonal.

Sentiu o tilintar quebradiço de sua jura,

Percebeu em nada disso viva a sua cura.

Fechou o broche sem consciência,

Chamou um taxi de conveniência.

Vislumbrou nos roxa zuis da alvorada,

Um suposto fim de um quase nada.

Empurrou sua porta calmamente,

Com desdém de uma morta mente.

Precipitou-se é escada e ao corrimão,

Com um dos saltos quebrados é mão.

Subiu intrepidamente até o quarto,

Como se corre a atender um parto.

Poi-se a frente dos versos no espelho,

Quebrou-o aos golpes de escaravelho.

Perfurou o dedo com seu enfeite,

Sugou seu sangue como é leite.

O agridoce desceu-lhe ao colo,

Em mal súbito baixou-a ao solo.

Pôs sua alma em uma busca vaga,

Agarrando ao corpo como praga.

Sentiu o gélido brisar em sua face,

Abriu os olhos de fronte ao cálice.

Lembrou das magoas afogadas de vinho,

Antes de seu sonho em colchas de linho...

Naquela manhã de um mormaço árido,

Ela se vestiu de púrpura.