LONGEEDOIS

 

Meus olhos arenosos das leituras do dia,
Puseram-se doídos após treze horas.
Este tempo que se esvai sem valia,
Por meu peito que só, e longe só, choras.

Meus ouvidos que suportaram blasfêmias,
Selaram-se para os ruídos das noites.
Este sonido que me vem em ventarolas, efêmeras,
Por meu sonho que só, em seus secretos deleites.

Seus cabelos de loiros à acinzentados,
Deixaste à mim como provas e legados.
Faz-me teu, sempre teu, num olhar amendoado,
Nos braços da chegada e em beijo açucarado.

Esta noite mais te quero, de teu gosto saciar,
Vou despir-me desta alma e ao longe te buscar.
Seu carinho me faz falta, falta de me encontrar,
Já corri por este mundo, mas em ti está meu lar...

Dance o sonho em seus deleites, sobre breve luar,
Faça baile de lampirídeos que brilhe todo lugar.
Voe distancias sem cansar, canse de não estar,
Retorne sempre louca ao seu agridoce amar.

Descanso daquelas leituras de letra duras,
Rabiscando quimeras de meus devaneios.
Divagando horas na maré insensata de mim,
Configuro uma sonata que sofre com o fim.

O fim de que nada em Scarlatti tem fim,
Como o som de seus passos sobre meu pensar.
Pensamento em decadência...
Sentido em anuência...
Dormência...
Amar!