Aqui ante o arauto de meus sonhos,
Posso ainda ouvir o bater dos trilhos,
O ranger do aço como pranteados do desamor.
Posso voar a rebolo de aqui para o amanhã,
Concebendo as linhas desiguais na nostálgica estação.
Os perfumes, as brisas e os tons daquela canção,
Juntam sortilégios em frenesis dos tempos que me vem.
Sinto o adocicado de todas aquelas brisas,
Faço sobre a face do meu eu o cântico dos anjos.
Tenho sobre o vento o ardor que contemplares,
Nas artimanhas dos dias que me escondem pilares.
Volta o bater dos trilhos, cessando os sonhos,
Os risos das crianças brincando no piso inferior,
Acordam os amores que a muito não se ouvia.
No silencio daquela alcovinha um ranger surgiu,
Era o sol se resguardando antes de sucumbir.
O sucumbir da noite em ganido descobriu,
O arfar de luzes fracas que neblina embriagou.
Esse etilismo como se fosse o secar do vinho,
Me fez sofrer sozinho mais um dilúculo frio.
Volta o ranger do aço, aguçando o novo dia,
Permeando minha essência como se não fosse a mim.
E o todo lá embaixo já esta em movimento,
Meus desejos em subjugo das mais belas passagens.
O aprazer do vagão final sente-se afora,
Grita e rasga por toda essa agra alvorada.
Das luminárias verdes retorcidas da triste estação,
São findadas as luzes dos resquícios fugares de mim.
Eis que aqui ante o arauto de meus sonhos,
Posso ainda ouvir o bater dos trilhos...

Do ALTO